Encapsulamento VS Remoção de Fibrocimento com Amianto
As placas de fibrocimento são um sistema muito usado para proteger as coberturas da água e há vários pareceres de entidades que dizem que, regra geral, é preferível o encapsulamento do fibrocimento à sua remoção.
Tendo isto em consideração, a Prudêncio pensou em desenvolver e aplicar um sistema extremamente eficiente ao nível da impermeabilização e do isolamento térmico, que confinasse e protegesse completamente o fibrocimento das causas que levam à sua degradação: o sistema de encapsulamento composto por uma armadura metálica leve de reforço e fixação, placas de isolamento térmico PIR e membrana de impermeabilização em TPO da Köster.
Continue a ler o artigo para ficar a conhecer todos os passos envolvidos neste processo e as razões pelas quais consideramos o encapsulamento a alternativa à remoção do fibrocimento.
Contexto das coberturas em fibrocimento
No que diz respeito às coberturas em fibrocimento, as chapas onduladas deste material, usadas em grande escala nas coberturas de edifícios, apresentam vários obstáculos, como os que se seguem:
- O fibrocimento utilizado na construção até dezembro de 2004 inclui, muito provavelmente, amianto na sua composição, numa proporção que varia entre 10 a 20%;
- As chapas onduladas apresentam grandes debilidades ao nível da estanquidade e da ausência de isolamento térmico, o que prejudica a eficiência térmica dos edifícios e a sua classificação energética;
- Gerou-se uma onda de sensacionalismo e de medo em torno deste material, sem fundamentação técnica ou científica, que pretende retirar, com urgência, todo o fibrocimento existente nas coberturas dos edifícios.
Apesar de existirem fibras de amianto no fibrocimento, estas estão fortemente aglutinadas pelo cimento (material não friável), sendo a probabilidade de se libertarem deste material quase nula. Isto quer dizer que o fibrocimento pode ser considerado um material de risco muito reduzido.
Aliás, na maior parte dos casos, a remoção representa um maior risco de libertação de fibras por sujeitar as placas de fibrocimento a manipulação e a agressão direta. Normalmente, é preferível o encapsulamento do fibrocimento à sua remoção.
Tendo isto em mente, a Prudêncio desenvolve e aplica um sistema que confina e protege o fibrocimento das causas que levam à sua degradação – agressões físicas, raios solares e amplitudes térmicas, chuva e humidade – respondendo, deste modo, a todas as debilidades e riscos que as coberturas em fibrocimento representam.
Motivação para o projeto e objetivos
A Prudêncio desenvolveu esta solução tendo por base três grandes razões.
1. A primeira razão diz respeito à redução ou mesmo anulação dos fortes impactos ambientais associados à remoção das placas de fibrocimento e aos custos avultados que essa remoção representaria.
Em 2008, existiam cerca de seis mil milhões de m² deste tipo de coberturas em Portugal. Ou seja, remover este fibrocimento para ser depositado em aterros significa um risco ambiental muito elevado de contaminação das terras e dos lençóis freáticos, com custos e necessidade de recursos impossíveis de suportar.
2. A segunda razão prende-se à eliminação dos perigos para a saúde.
Isto porque a remoção representa um maior risco de libertação de um elevado número de partículas.
3. A terceira razão refere-se à apresentação de uma solução eficiente, sem as debilidades ao nível da estanquidade dos sistemas tipo “painel sanduíche”, tradicionalmente usados na substituição das placas de fibrocimento, quando estas são removidas.
Em simultâneo, esta solução deveria ser de aplicação confortável e segura, por não implicar nem a paragem das atividades normais dos edifícios, nomeadamente os edifícios industriais e comerciais, nem riscos de inundações durante a aplicação.
Estado da arte
A Prudêncio verificou que as opções existentes para resolver o problema do fibrocimento são muito pobres. Estas resumem-se a duas soluções tecnicamente débeis, que comportam riscos para o ambiente e para a saúde: a remoção do fibrocimento para substituição por sistemas em painel sanduíche ou um suposto “encapsulamento” que, na verdade, não passa de uma simples operação de cosmética, recorrendo à pintura das placas de fibrocimento com tintas específicas.
A opção da remoção do fibrocimento, além dos riscos para a saúde que lhe são inerentes, traz também as fragilidades dos sistemas em chapa usualmente aplicados. Referimo-nos à descontinuidade nas caleiras e a outros remates que provocam entradas de água em dias de vento e que apresentam elevados índices de pluviosidade ou em casos de entupimentos. Verificam-se remates frágeis e ineficazes ao nível dos vários elementos existentes na cobertura, como muros, cumes, chaminés, clarabóias e caixas de escadas, recorrendo a rufos metálicos com folgas nas juntas ou vedados com silicones e com fixações aparentes. Além disso, a corrosão surge, muitas vezes, mais cedo do que o esperado, quer nas chapas da cobertura, quer nos remates, cortes e fixações.
Relativamente à opção de tratamento com pintura, esta não deveria ser chamada de “encapsulamento”, dado que não protege o fibrocimento de agressões físicas ou mecânicas e não garante a impermeabilização. Isto, porque, ao ser aplicado o material impermeabilizante diretamente sobre as placas de fibrocimento, a impermeabilização fica sujeita às tensões do suporte, apresentando rapidamente ruturas e descolamentos, especialmente nas juntas de sobreposição das chapas de fibrocimento, onde os efeitos das contrações e dilatações são mais sentidos. Este problema ganha ainda maior dimensão pelo facto de a colocação direta de materiais impermeabilizantes sobre as placas de fibrocimento não prever a aplicação de isolamento térmico, tornando-as vulneráveis às amplitudes térmicas e aos consequentes efeitos das dilatações e contrações.
Tão ou mais grave do que o que foi mencionado é que a utilização de pinturas nas placas de fibrocimento implica a sua prévia lavagem ou raspagem, para correta aderência das tintas, o que acarreta riscos de libertação de fibras prejudiciais ao ambiente e aos trabalhadores que as aplicam.
Incertezas técnicas e científicas
O sistema que pensámos utilizar no encapsulamento do fibrocimento é similar ao já aplicado há muitos anos nos chamados “sistemas deck”, que tem por base uma chapa simples metálica, à qual é fixada, diretamente, a solução de revestimento composta por placas de isolamento térmico e sistema de impermeabilização. Este sistema de revestimento foi adaptado à solução de encapsulamento de coberturas em fibrocimento, mas manteve a filosofia geral, que já tem provas dadas há dezenas de anos.
O grande desafio foi o de desenvolver um sistema e técnicas de aplicação que permitam reforçar a cobertura, que garantam a segurança dos trabalhadores e anulem o risco de libertação de fibras. Desta forma, evitar-se-ia o risco de quebra das placas de fibrocimento durante a aplicação do sistema de encapsulamento e assegurar-se-ia a fixação do novo sistema sem nenhum tipo de manipulação ou perfuração das placas de fibrocimento. Estas últimas características são particularmente importantes para dar força à nossa opção de encapsulamento como alternativa à remoção.
Outro desafio determinante foi o de idealizar uma avaliação de riscos que demonstre se o fibrocimento, em cada trabalho específico, tem ou não amianto na sua composição, que determine o seu estado de conservação e evidencie, claramente, que o valor limite de exposição a fibras de amianto (caso o resultado da presença de fibras de amianto se confirme) não será excedido na área de trabalho, durante a aplicação do sistema de encapsulamento.
A solução e os métodos de trabalho desenvolvidos
A solução da Prudêncio assenta em três pilares importantes:
1. Avaliação de riscos.
Para implementar uma avaliação de riscos consensual e eficaz foi necessário começar por analisar todos os documentos legais e normativos, bem como o guia de boas práticas para prevenir ou minimizar os riscos decorrentes do amianto em trabalhos que envolvam (ou possam envolver) amianto. Este guia é destinado a empregadores, trabalhadores e inspetores de trabalho e foi elaborado pelo Comité de Altos Responsáveis da Inspeção do Trabalho (CARIT – Comissão Europeia).
Depois de analisados os documentos, a Prudêncio reuniu com as entidades competentes para obter o seu parecer e concordância quanto à metodologia a estabelecer e as avaliações a realizar. Destacamos o ACT de São João da Madeira, que nos foi indicado como o mais competente e experiente em matéria relacionada com o amianto, onde obtivemos informação essencial para a nossa decisão.
Para realizar as avaliações relacionadas com a possível presença de amianto nos materiais e no ar, optámos por recorrer aos serviços do INSA – Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge para que, dada a sensibilidade do assunto “amianto”, não existissem dúvidas quanto à imparcialidade e ao rigor técnico das avaliações.
2. Desenvolvimento e dimensionamento da estrutura metálica leve de fixação e reforço da cobertura.
Como mencionado anteriormente, esta solução permite a fixação do sistema sem manipular as placas de fibrocimento, reforça a cobertura e garante a segurança para os trabalhadores – de queda em altura e de exposição a fibras de amianto – durante a aplicação do sistema.
3. Aplicação do sistema de encapsulamento, composto por placas de isolamento térmico PIR e membrana de impermeabilização em TPO da Köster.
Este sistema, além de proporcionar eficiência única ao nível térmico e da impermeabilização, também garante uma total proteção mecânica às placas de fibrocimento, nomeadamente pela elevada resistência à compressão e mecânica que as placas de isolamento e as membranas de impermeabilização conferem às coberturas.
Além disso, promove a sustentabilidade e a ecologia, filosofia intrínseca às membranas em TPO da Köster.
Resultados obtidos e conclusão
É com grande satisfação que sentimos atingidos os propósitos que nos motivaram a apostar nesta solução: as preocupações em preservar o ambiente e a saúde pública, e o intuito de apresentar ao mercado um sistema sem par no que concerne à eficiência energética, à estanquidade e à proteção e confinamento do fibrocimento.
Concentramo-nos, essencialmente, no revestimento exterior, por ser aquele que está sujeito às agressões que levam à degradação do fibrocimento. Por norma, o interior das placas está em bom estado de conservação, que pode ser comprovado por análises ao ar, através do INSA, e que propomos realizar sempre que existem dúvidas. Quando necessário, apresentamos soluções de revestimento interior com tintas adequadas para fibrocimento, que propiciam ambientes renovados e mais iluminados, ou então propomos a realização de tetos falsos.
Sabemos que esta é a solução ideal para um grande número de situações, ainda que só a aconselhemos depois de realizada a análise de risco e de percebermos qual a função e a tipologia dos edifícios que contêm coberturas em fibrocimento. No entanto, existem casos em que, após ponderados todos os fatores, aconselhamos a remoção do fibrocimento.
O nosso objetivo é dotar os decisores de toda a informação existente, possibilitando-lhes a escolha mais acertada em relação à renovação deste tipo de coberturas.
Temos orgulho nesta solução de reabilitação de coberturas em fibrocimento, à qual dedicamos o lema “Transformamos uma cobertura potencialmente perigosa num sistema sustentável”, por acreditarmos que damos o nosso modesto contributo para um planeta mais saudável e para uma maior qualidade de vida dos seus habitantes.